O doce arquipélago mediterrânico de Malta está longe de apresentar condições ideais para a práctica do Geocaching: as acessibilidades internas são delicadas, com a utilização de viatura própria a ser dificultada pela condução pela esquerda e pelo mau estado da rede viária, e com um serviço de transportes públicos relativamente abrangente mas de periodicidade muito espaçada. A este cenário junta-se um calor que chega a ser atroz, e que se estende pelo Outono adentro.
Por outro lado, as ilhas têm um potencial sub-aproveitado. Existem cerca de 60 caches, quase todas tradicionais. Mas poderiam – e deveriam – ser muito mais. Desde o património histórico até à malha urbana, passando pelo espaço rural e a espectacular costa, Malta está repleta de locais que bem mereceriam umas caches, à luz dos valores vigentes em Portugal. Ironicamente, algumas das que foram criadas estão localizados em recantos de interesse bem duvidoso.
Não existe muita gente a criar caches em Malta. São 3 ou 4 nomes recorrentes, e de resto, quase todos são estrangeiros. A condição física dos contentores acaba por sofrer com isto. Encontrei vários bastante mal-tratados, que certamente não resistirão ao próximo inverno, sendo que em dois casos, a tampa não existia de todo.
Durante a minha estadia, encontrei cerca de 1/3 das caches existentes em Malta na altura. Sobretudo na costa norte, ironicamente a menos interessante, mais urbana. Com base nesta experiência, apontaria as mais marcantes experiências:
Assumption Of Our Lady; uma pequena capela perdida no meio da paisagem rural maltesa, extremamente pictoresca. Ali ao lado um residente ofereceu-nos água fresca, apenas porque imaginou que podiamos ter sede.
Jensen’s Lookout; não era para ser procurada, mas passávamos no autocarro ali mesmo perto, no fim de um cansativo dia. E no vai-não-vai, acabámos por correr para a saída. Em boa hora! Toda a área envolvente é adorável, natural, transpirando a verdadeira alma maltesa. No páteo da igreja a rapaziada disputava dois desafios de futebol em simultâneo. As vistas são excelentes, e perto da cache existe uma pequena esplanada altamente recomendada.
Enter The Dragon; uma multi-cache descomplicada numa das zonas mais turísticas de Malta, mas mesmo assim muito recomendável. Encontrei-a num dia de temporal no mar, o que lhe conferiu uma magia especial. A segunda parte da cache desenrola-se numa marina de luxo, aberta ao público mas tão disfarçada que os turistas não a encontram. Um espectáculo.
Selmun Palace; um edificio palaciano, numa área remota. Da paragem de autocarro até lá serão cerca de 900 m, nos quais podem ser vistas algumas casas genuinas. O palácio não pode ser visitado, mas a vista exterior vale a pena por si.
St Paul’s View; da cache anterior vai-se a pé até esta, encontrando-se pelo caminho antigas instalações militares que podem ser exploradas livremente. De resto, trata-se de um excelente percurso pedestre.
As duas coisas mais alucinadas que me sucederam a fazer Geocaching em Malta:
- Aproximar-me de uma cache, escondida numa densa rede de trepadeiras e arbustos junto a uma estradinha sem movimento, e ver pintado no chão em tinta cor-de-laranja: GEOCACHE. Pronto. Isto é que é um spoiler in loco.
- Uma cache escondida dentro de um pub. Impossível de encontrar sem perguntar ao barman. E foi ali mesmo que me esqueci do meu GPS. Já a caminho do aeroporto decidi ir tentar esta, depois de já ter a informação que seria necessário entrar e perguntar pela cache. O Dakota novinho em folha ficou lá e eu vim embora. Só dei por isso no autocarro a caminho do aeroporto. Felizmente (até ver) o pessoal é honesto. Chegado ao aeroporto, entrei no free wi-fi, detectei o nome do pub e saquei o telefone. Liguei e o barman foi à procura e encontrou ou meu GPS. Agora aguardo que um amigo meu maltês vá lá buscá-lo e mo envie por correio.
Outra vez a deixar um GPSr atrás?
O peso da idade já se está a notar 😀