Ora bem. Há já algum tempo que andava a matutar em escrever umas linhazitas sobre este assunto, e hoje, ao ler uma participação no fórum Geocaching@pt decidi ter chegado a altura.
Há muito, muito tempo, tinha eu um Garmin Etrex qualquer (eles são tantos que há muito desisti da pretensão de conhecer toda a linha e identificar os modelos individualmente), movido a pilhas. Pesadelo atrás de pesadelo! Inevitavelmente, de cada vez que saia em acção, algo relacionado com a fonte de energia da unidade – as tais malditas pilhas – vinha ensombrar o dia! Depois, o Etrex deixou de chegar. Queria algo mais moderno, com outras capacidades, e encomendei um Magellan eXplorist 500. Que, alegria das alegrias, não dependia desses pequenos instrumentos satânicos para funcionar. Mas o tic-tac inexorável do tempo não perdoa, e como tudo chega um dia ao seu fim, também o bem-amado eXplorist se finou. E então, foi o regressar à velha marca… e aos velhos pesadelos. É que o novinho Garmin Dakota 20, também ele, precisa de duas pilhaças no seu ventre para dar sinais de vida.
A tendência de abandonar baterias nativas e equipar dispositivos de electrónica de consumo com pilhas parece ser uma corrente actual, e ao trocar umas impressões com malta conhecida, compreendo porquê. Parece que sou só eu que não suporta a assombração permanente das pilhas, e que o mercado quer mesmo é as chatices que elas trazem. Dizem que em caso de necessidade, em qualquer parte se compra umas pilhas. O que é mais ou menos verdade, concedido. Mas não só não é uma garantia total, como abaixo se verá, como me parece muito pouco. É que é mesmo tudo o que conseguem apontar em sua defesa. E a isso se agarram, é mesmo aquilo que querem e não há nada a fazer. Já eu, crítico dessas coisinhas das pilhas até a último fôlego, consigo reunir mais argumentos. Vamos lá então ver todos os sabores e tonalidades de que se têm revestido até hoje as torturas a que tenho sido submetido com a porcaria das pilhas:
- Como nunca se sabe, acho que é consensual que não se sai para o campo apenas com as baterias que estão no corpinho do GPS. Mais peso, volume e provavelmente um irritante chocalhar no saco ou no bolso.
- Algumas pilhas desenvolvem o irritante hábito de se descarregarem sozinhas; ora como geralmente temos mais em que pensar, o comum dos utilizadores não estará a controlar em que data carregou as ditas cujas e qual é a validade dessa carga. Estão carregadas, pronto, estão carregadas… isto até se ter a desagradável surpresa de se exaurir as que sairam de casa na pança do GPS, e quando se vai a colocar as pilhinhas totalmente carregadas se descobrir que afinal temos ali coisa para 10 minutos de funcionamento e depois adeuzinho, regresso a casa antecipado.
- Depois, entra o factor de falha humana, mas mesmo assim perfeitamente legítimo nesta discussão, uma vez que errar é atributo dos homo sapiens, e assim como assim, não havendo pilhas não existiria sequer margem para esta asneira: muito simplesmente, pensamos que as tinhamos carregado, e afinal esquecemo-nos, ou fizemos confusão, e a culpa não é das meninas mas sim nossa, mas em termos prácticos a verdade é que vamos por elas e lá está… o tal regresso antecipado a casa.
- Assumindo que as duas que estão lá dentro quando se sai não são suficientes para um dia inteiro de Primavera a cachar, e que é preciso pelo menos mais duas (se tudo correr bem com essas “mais duas”), pode ainda suceder uma coisa: terem ficado esquecidas em cima da mesa de cabeceira, na pressa de sair de casa a pensar em milhentas coisas ao mesmo tempo…
- … ou então, porque estas coisas acontecem, terem saltado do bolso, ou da bolsa da porta do carro quando se abriu na estação de serviço… e a verdade é que quando se vai por elas, nada.
- Depois, há a durabilidade e toda a ciência do conhecimento que envolve pilhas, e que não interessaria a ninguém caso não fosse obrigatório o convivio com estes objectos diabólicos. E se um tipo não se formar rapidamente em “engenharia de pilhas”, acaba por comprar as más marcas com tudo aparentemente certinho, ou as boas marcas com más especificações, e no final, ao fim de meia dúzia de meses, decide-se que o melhor é deitar aquelas para o lixo porque estorvam mais do que ajudam. Junte-se a isso as tais pilhas especiais de corrida que cairam do bolso, mais aquelas que apanharam um pouco de chuva e acabaram apodrecidas no pilhão, ou que sofreram qualquer acidente passível de sofrer a pequenas coisas que andam em avulso por ai… e a despesa em pilhas ao fim do ano é capaz de ser considerável.
- E será que existem mesmo por ai, por debaixo de cada pedra, pilhas destas à venda? Que são vulgares lá isso são, mas uma das vezes em que tudo correu mal e estava mesmo decidido a fazer Geocaching, eram 9 da mahã de um Domingo, e estava perto da vila ou cidade do Entroncamento. E pilhas à venda por lá? Nada. Népias. Nil. Afinal, não é garantido que na hora de necessidade, se encontrem pilhas destas por todo o lado.
- Bem, reconheço que na maioria dos casos até se conseguem comprar sem grandes problemas; é por isso que já tenho um stock de umas 12 pilhas não recarregáveis novinhas, usadas uma vez, como remendo de qualquer um dos problemas acima assinalados.
E certamente mais incidentes vivi relacionados com estas coisas das pilhas. Mas estou a escrever este artigo ao correr da pena, ou melhor, do teclado, pelo que despejei o que tinha de memória, apontando as probabilidades para a existência de mais matéria enterrada nos arquivos mentais.
E agora, o que há a contrapôr a uma bateria nativa?
- Dura e dura e dura. Não é preciso andar com mais uma ou duas no bolso. Não certamente para um dia de Geocaching, por mais longo que seja, e muitas vezes até aguenta com uma carga todo um fim-de-semana. No caso de tour prolongada, com pernoita, o máximo que pode acontecer é ter que levar carregador.
- Como está sempre dentro do GPS, não se perde nem se esquecem em casa, a não ser que ele se vá, e nesse caso será o menor dos nossos males.
- Por qualquer razão, quando estão carregadas, mantém-se carregadas por longo tempo.
- Não há nada que saber, nenhuma ciência a estudar. Carrega-se ligada à energia como o telemóvel e pronto.
- Não se prevê que exista alguma despesa associada à bateria nativa do GPS.
Facto: Dos inconvenientes apontados às pilhas, já todos me sucederam, por vezes mesmo em associação acumulativa. E sempre por mais de uma ocasião. Aquando da minha primeira “visita” ao “maravilhoso” mundo das pilhas, com o Etrex, era um problema dia sim dia não. Agora, com o Dakota, que já leva 3 ou 4 meses, a coisa melhorou um pouco. Até agora tem sido só mesmo o incómodo de carregar a dose extra de pilhas e o cuidado obsessivo: estarão carregadas? Já estão no saco? De certeza? Estão a descarregar muito depressa? Ainda se aguentam até ao fim do dia?
Facto: Dos inconvenientes eventualmente apontados a baterias nativas, nunca nenhum me sucedeu. E digo “eventualmente” porque não lhes conheço nenhum. Em anos e anos de utilização, o pior que aconteceu foi ter-me esquecido sucessivamente de colocar à carga o GPS, e ao fim do terceiro dia disto, claro, apagou-se no decorrer da acção. Culpa minha e ocorrência única em todo este tempo.
Mete dois pares dessas pilhas “normais” no carro e outros dois num bolso pouco usado da mochila e/ou do estojo da máquina fotográfica 🙂
Visão curiosa, mas realmente não a partilho.
Tenho um eXplorist a pilhas e gosto bastante, por e simplesmente não tenho de me preocupar. Tenho sempre mais um par ou dois, quando as que estão lá dentro acabarem é só trocar, simples e eficaz. Mas é certo que não gosto de usar recarregáveis, nisso, sem dúvida, concordo contigo.
tenho de concordar com o tmob, a possibilidade de poderes comprar em qualquer loja mais pilhas é claramente a mais valia
Às vezes interrogo-me se não escrevo de forma clara. Depois de expôr em detalhe um porradão de inconvenientes, contra UMA eventual vantagem, o pessoal continua a fincar pé nessa única e solitária vantagem que um dia talvez se revele.