Atravessando uma fase de profunda desmotivação em termos geocachianos, sobretudo causada pelo excesso e pela vulgarização das “caches” dei por mim a pensar nas razões que escolhi criar as caches que criei. E lembrei-me que dava uma série de artigos que, como tantas vezes sucede, são primeiro que tudo uma sistematização que faço para mim próprio.
A cache Cerro de São Miguel foi a minha primeira. E fará daqui por dois dias nove anos de idade. O FTF ocorreu uma semana depois, conseguido por um geocacher britânico. O primeiro português chegou até ela cerca de um mês mais tarde, e foi o pmateus21. E desde então, foram 276 founds, 11 votos de favorito. E muitos logs, que fui lendo, primeiro com um entusiasmo pueril, depois, de forma mais rotineira até que, na realidade, parei de sequer reparar neles.
Não me recordo quantas caches tinha encontrado quando senti o impulso que quase todos os geocachers sentem mais cedo ou mais tarde. Partir para a minha própria criação. Sei que foi cerca de meio ano depois de começar a jogar, e a primeira questão que se me afigurou foi: Num raio de casa que me permita fazer manutenção, qual é o local que mais me agradou quando comecei a vir ao Algarve? E o Cerro de São Miguel foi a resposta clara. Recordo-me bem do que senti quando o carro fez aquela curva e pela primeira vez vi o mar, tão azul, lá em baixo, quase a curvar com o horizonte, dando o contorno não linear da superfície terrestre. E as terras do Algarve, a perder de vista, talvez mesmo até Espanha, para um lado, e para o concelho de Albufeira para o outro. Pus-me a contar que terras concelhias se avistavam dali… Olhão, claro, mesmo ali em baixo… e depois, Tavira, Vila Real de Santo António, para um lado, enquanto para o outro se avistava território farense, de Loulé, de Albufeira, e, nas costas, São Brás de Alportel.
Depois pensei mais um pouco. Não tanto na minha experiência pessoal ao descobrir as maravilhas do cume do cerro, nos pôr-de-sol que dali vi, na calma e nos detalhes a observar, mas mais nos aspectos técnicos. Haveria ali um bom local para efectivamente esconder uma caixa? Seria interessante trazer ali visitantes nacionais e estrangeiros? Meti-me no carro e fui até lá, em viagem exploratória. Pensei, coçei o queixo, ponderei possibilidades. E se, para fazer algo diferente, colocasse a cache naquele outro cerro menor, ali defronte de forma a levar as gentes do GPS a um ponto onde de facto nunca iriam sem esse estímulo? Acabei por descartar essa ideia, nem sei porquê. Decidi-me, no fim, por posicionar a cache na face norte do cerro, porque assumi que as vistas para o oceano toda a gente procuraria e descobriria sem ajuda, e achei engraçado estimular os geocachers a olhar com mais atenção a paisagem serrana que se estendia na direcção oposta. E confirmei de forma mais racional o meu instinto inicial: era de facto um local belissimo onde muita gente deixaria de ir sem uma “ajudinha” geocachiana. E proporcionava as melhores vistas no Algarve a seguir ao topo de Monchique.
No dia da colocação fomos por um trilho previamente encontrado… talvez 100 ou 200 m até achar que chegava de afastamento. Deixei a cache aninhada entre umas pedras, recolhi as coordenadas. Testei-as. Olhei em redor em busca de uma dica e vi que à frente passava uma cablagem aérea. Movi o container para lá e escrevi isso mesmo: “à vertical do cabos”.
A “listing” é hoje o que era nesse início de 2005, e, com naturalidade, foi-o na altura o que eram as listings dessa época: minimalistas, em inglês, como o era todo o Geocaching em todo o mundo. E pronto… ficou ali, para servir a comunidade.
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